quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A vida Antônia

"...D.Antônia estava sentada na escadaria da frente do casarão, com os braços por entre as pernas abaixou-se vagarosamente, na máxima do que esta palavra possa significar,deitando-se sobre o colo ficando inerte ...Casada com seu José há aproximados sessenta anos,ele foi seu primeiro, único e eterno companheiro,quando se conheceram d.Antônia estava com 15 anos ele uns 18 logo se apaixonaram e não demorou muito estavam casados,foram morar em uma fazenda no interior de Itamerânia herança deixada dos pais dela.Viviam um sonho de relacionamento, realmente foram feitos um para o outro.Ele tocava os serviços da fazenda junto aos empregados,levantava com os galos e já saía para ordenhar o gado,participava da coleta e plantio dos alimentos já d.Antônia passava o dia na cozinha com a sua empregada cozinhavam de um tudo, dava a hora do almoço ele chegava e ia direto a mesa, ela insistia para que ele fosse lavar as mãos ele brincava sempre que o cheiro de sua comida o fazia ir direto a mesa e assim abraçados ela o conduzia até o lavatório.Após a sesta ele fazia o que ele considerava imprescindível;montava a cavalo e saia por suas terras,cavalgava por horas e horas parava no riacho dava água ao cavalo e sentava ali por alguns instantes para pensar na vida(não escondia de ninguém que ali era o seu o lugar preferido)neste mesmo período a esposa preparava em casa uma linda mesa de café com direito a bolos e queijos que ela mesma produzia fazia questão de deixar tudo impecável para a chegada do marido que sempre era por volta do por do sol. Ele chegava e lá estava ela sentada no batente da escada esperando com o sorriso largo e o tempo foi se passando e isso tudo se repetia dia após dia, com alguns novos detalhes,com a chegada da velhice para ambos com muito esforço tentavam manter o ritmo, o que eram cavalgadas rápidas viraram passeios(ele mantinha aquelas idas diariamente ao riacho)ela já precisava de um apoio maior na cozinha mas nem por isso saía de lá.Nos fins de tarde continuava a esperá-lo mas agora com novo detalhe:não mais sentada no batente de sua escada e sim numa cadeira de balanço na varanda porém com o mesmo sorriso e satisfação na chegada do companheiro.Um dia seu José não chegou,passou da hora que era quase sempre a mesma,d.Antônia não achou nada estranho acreditou que ele tivera algum imprevisto,a noite caiu e sua empregada mais próxima mostrou-se um tanto preocupada pois aquilo nunca ocorrera,ela se mostrou calma e disse que logo ele estaria ali.Por volta das vinte horas dois empregados saíram em busca de seu José,mesmo contra vontade dela que acreditava piamente que ele estava chegando a qualquer instante.Estava tarde e ventava um pouco quando a empregada apanhou um manto e agasalhou sua patroa já que não queria entrar por nada nesse mundo,o sol já raiava quando finalmente os empregados encontraram o seu José caído as margens do riacho com uma das mãos sobre o peito que já não bombeava sangue um bom tempo.Recolheram o corpo e voltaram a fazenda,chegando lá estava dona Antônia na cadeira como sempre,longemente ela pode avistar que algo não estava bem e um silêncio tomou conta de todo aquele ambiente,ela não movia um músculo diante aquele quadro e assim seguiu-se aquele dia de preparativos para o enterro dele.Passaram-se alguns dias e a mesma rotina era seguida por aquela senhora;a mesa para o almoço e o café posto para a chegada de seu esposo dia após dia,quando a empregada tocava no assunto que ele não voltaria d.Antônia nem permitia que ela terminasse de falar e pedia-lhe para ficar em silêncio.Passou a conversar com o esposo como se nada tivesse ocorrido,eram visíveis os sinais de abatimento dela,sua vida perdeu o sentido até que um dia com muito esforço,já que a idade não lhe permitia tal proeza, d.Antônia estava sentada na escadaria da frente do casarão, com os braços por entre as pernas abaixou-se vagarosamente, na máxima do que esta palavra possa significar,deitando-se sobre o colo ficando inerte ..."